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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Resumos - Mesa Fédon II


SEGUNDA, 01 DE SETEMBRO | 14:00 ÀS 16:45 | BLOCO D SALA 308
Prof.ª Gisele Amaral (UFRN)
Meletê thanatou e suicídio em Platão
O processo, a condenação e a execução de Sócrates são temas presentes nas conversas filosóficas escritas por Platão, especialmente nos diálogos Apologia, Critão, Eutifrão e Fedão. Cada um desses diálogos, direta ou indiretamente, aborda os acontecimentos que culminaram no fim da vida de Sócrates. Sabemos, porém, que os relatos platônicos não devem ser tomados como fonte histórica stricto sensu, pois ainda que haja uma coincidência entre os fatos e o testemunho de Platão, a versão deste – tanto quanto a de outros eventos que encontramos mencionados ao longo da sua obra filosófica – figura, predominantemente, como pretexto para introduzir a conversa e como inspiração para refletir sobre temas relevantes da sua filosofia. Sob esta perspectiva, dentre os diálogos acima mencionados, o Fedão é aquele que descreve o último dia da vida de Sócrates na prisão, até o momento da execução da sentença que o levará à morte. Sócrates protagoniza a conversa e é porta-voz de algumas teses preponderantes no âmbito da filosofia platônica, dentre elas a da imortalidade da alma. Num primeiro momento, Sócrates manifesta a crença na imortalidade da alma como justificativa para a sua atitude serena, a despeito da iminência da própria morte. Ainda assim, esse estado de tranquilidade causa grande perplexidade naqueles que estão presentes na cena narrada por Fedão a Equécrates e contrasta com as reações desesperadas daqueles que estão inconformados com a sentença que os deixará irremediavelmente privados da companhia do amigo. Sócrates, porém, se mostra esperançoso de que seja possível encontrar na morte uma condição melhor do que a da vida corpórea, já que a morte é a separação da alma e sua libertação dos infortúnios intrínsecos ao corpo. Por isso, Sócrates afirma que todos os homens sábios desejam morrer. Sendo a morte seguramente um bem, o filósofo, segundo ele, deve estar disposto, e mesmo inclinado, a morrer, pois a filosofia não é senão o cuidado da morte – meletê thanatou. Nesse contexto, cuidar da morte, e mesmo desejá-la, parece sugerir que o filósofo devesse atirar-se para morte com vistas a livrar-se o quanto antes do próprio corpo e junto com ele livrar-se também de todas as perturbações que a dimensão sensível representa para a vida filosófica. Porém, Sócrates logo adverte que não se deve usar de violência para consigo mesmo, “pois, segundo se diz, não é justo” (61d), numa alusão à proibição legal do suicídio. No entanto, a advertência de Sócrates revela ao filósofo uma condição paradoxal, pois se a morte é um bem, por que não temos o direito de fazer o bem a nós mesmos? Superando o argumento legal, Sócrates pondera mais adiante que não devemos buscar por nós mesmos a morte, pois “são os deuses que cuidam de nós e que nos têm a nós, humanos, como uma das suas possessões”. (62b). O verdadeiro filósofo não recorrerá por si mesmo à morte, pois tanto quanto o ser humano não tem autonomia sobre o começo da vida, do mesmo modo não detém o direito de decidir sobre a sua própria morte. As ponderações de Sócrates permitem, por um lado, entender os aspectos legal e teológico que revestem a questão do suicídio, mas, por outro lado, não esgotam suficientemente o sentido da filosofia definida como meletê thanatou. Para trazer maior compreensão sobre o assunto, pretendo aqui apresentar uma análise da definição proposta por Platão à luz da noção grega de ‘morte’ em algumas das suas principais acepções, visando, sobretudo, explicitar o modo socrático de lidar com a própria morte como algo inteiramente distinto da prática do suicídio.

Luiz Felipe da Silva Carvalho (UFF)
O papel da memória na imortalidade da alma

 O Cuidado de Si através do exercício da morte nos conduziu à pergunta sobre a imortalidade da alma. Mais especificamente, que tipo de imortalidade e de Cuidado podemos conceber a partir de uma alma pensada como o princípio de uma ação. Dando continuidade à pesquisa iniciada no ano passado sobre o conceito de alma no diálogo Alcibíades I, esta comunicação é uma tentativa de apresentar o Antigo conceito de História e de feito histórico como uma resposta ao fato inevitável de que cada Homem morre. Ao conceber a alma como um feito (prákseis), e a história como a guardiã dos grandes feitos, a memória torna-se o lugar dessa imortalidade. Portanto, em resposta ao derradeiro fato e na busca por tornar-se melhor e digno da imortalidade é que talvez a história possa se nos apresentar como um tipo de meléte thanátou.
André Decotelli (UFF)
A kathársis da alma como método de salvação no Fédon
Nossa pesquisa se resume em analisar o processo soteriológico no diálogo Fédon de Platão. É neste diálogo que de forma esplêndida é narrada, com um tom heróico, os últimos momentos de vida de Sócrates. Postulamos que nesta obra platônica, a alma, o verdadeiro eu para o filósofo ateniense, é salva por meio de uma purificação que é realizada pela prática da verdadeira filosofia. A total separação da alma ao corpo só será plena na morte, no entanto, em vida, o filósofo já pode experimentar desta separação através de um processo ascético, separando ao máximo a sua alma do corpo e, consequentemente, a purificando, aproximando-se do conhecimento, do divino, para enfim, salvá-la de um destino de sucessivas encarnações. Tal processo purificatório é intitulado de kátharsis, noção que Platão transpõe do imaginário religioso, mais precisamente órfico, para a sua própria filosofia. Analisaremos de que forma a kátharsis surge no Fédon e seu papel central na economia do diálogo.

Thiago Sebastião Reis Contarato (UFRJ) 
Duas posturas diante da morte


Nessa apresentação, o post mortem será relacionado com a coação e com a ação cotidiana, segundo duas posturas cristãs. Para tanto, nos basearemos principalmente em Tomás de Aquino.
Considerando a morte como um divisor de águas entre a vida terrena e a vida eterna, há duas posturas sobre o post mortem. Primeiramente, muitos compreendem as noções de Céu ou Paraíso (que é uma recompensa eterna) e Inferno (uma punição eterna) como integrantes de um sistema de coação para as atitudes cotidianas dos seres humanos. Esta é a visão que chamaremos de “postura popular”, uma vez que a prática cotidiana é movida por recompensa e punição, sem conhecimento esclarecido das suas ações e muito menos amor por estas.Por outro lado, na visão que chamaremos de “postura filosófica”, Tomás de Aquino e a maioria dos filósofos cristãos compreendem que todos os homens amam por natureza a sabedoria e a verdade, as quais, consideradas em si mesmas, se identificam com o próprio Deus. Sendo assim, no nosso cotidiano, todos os homens deveriam agir segundo aquilo que eles amam por natureza e segundo aquilo que satisfaz maximamente esse amor. Para fazer aquilo de que gostamos ou amamos, não é necessário receber recompensa e não se faz por medo de punição, de modo que não seríamos coagidos.




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